Neuropatia do Nervo Radial: Entendendo a Lesão e Como o Ultrassom Pode Ajudar

Por Dr. Renan I. C. do Vale

Nem sempre uma lesão nervosa no braço vem acompanhada de fratura ou de um trauma óbvio. Muitas vezes, um movimento de tração ou uma entorse mais forte já são suficientes para causar sofrimento ao nervo radial, que tem um trajeto bastante vulnerável nessa região.

Anatomia: Onde está o nervo radial e por que ele sofre?

O nervo radial nasce no plexo braquial e percorre boa parte do braço até alcançar o antebraço e a mão. No terço médio do braço, ele passa por uma área chamada sulco espiral, localizada na face posterior do úmero. Ali, ele fica muito próximo ao osso, posicionado entre as porções lateral e medial do músculo tríceps.

Ao se aproximar do cotovelo, o nervo atravessa uma estrutura chamada septo intermuscular lateral e passa para o compartimento anterior do braço, ficando entre dois músculos: o braquial e o braquiorradial. Pouco depois, ele se divide em dois ramos principais: um sensitivo (superficial) e outro motor (profundo).

Essa anatomia explica por que o nervo radial é tão suscetível a traumas compressivos ou a estiramentos, especialmente nas situações em que o braço sofre um movimento brusco de tração.

Causas mais comuns de neuropatia radial

A lesão mais conhecida do nervo radial é aquela que acontece após uma fratura de úmero, especialmente na região da diáfise. Mas outras situações também podem desencadear o problema, como:

  • Trações repentinas do braço
  • Longos períodos de compressão (por exemplo, dormir apoiado sobre o braço)
  • Cirurgias na região
  • Presença de massas ou cistos próximos ao trajeto do nervo

Como o ultrassom ajuda no diagnóstico?

A ultrassonografia é uma excelente aliada no diagnóstico de neuropatias periféricas. Ela permite seguir todo o trajeto do nervo radial, analisando sua espessura, o padrão de suas fibras internas e sua relação com os músculos e ossos ao redor.

No caso que acompanhei recentemente, o ultrassom mostrou um espessamento difuso do nervo radial no segmento correspondente ao sulco espiral, estendendo-se até o ponto onde o nervo perfura o septo intermuscular lateral. Esse tipo de achado é típico de lesão por estiramento.

O interessante é que, apesar da alteração ao longo desse segmento, os ramos terminal superficial (sensitivo) e profundo (motor), avaliados na altura da fossa antecubital, apresentavam morfologia e ecotextura normais. Além disso, as demais porções do nervo, tanto antes quanto depois da área comprometida, também estavam preservadas.

Por que diagnosticar cedo faz diferença?

O reconhecimento precoce dessas alterações é fundamental. Em muitos casos, o tratamento é conservador, com analgesia, fisioterapia e acompanhamento clínico. A realização de um exame de eletroneuromiografia, algumas semanas após o início dos sintomas, costuma ser o próximo passo para avaliar a extensão da lesão e a recuperação da função motora e sensitiva.

Conclusão

A neuropatia do nervo radial, especialmente no segmento do sulco espiral do úmero, representa uma manifestação relevante de lesão por estiramento ou compressão, mesmo na ausência de fratura óssea. Sua localização anatômica, em contato direto com a cortical do úmero e cercada por estruturas musculares relativamente fixas, torna o nervo particularmente suscetível a mecanismos de tração.

A ultrassonografia de nervos periféricos tem se consolidado como uma importante ferramenta diagnóstica na avaliação estrutural do nervo radial, permitindo não apenas a identificação de alterações morfológicas, como espessamento e perda da arquitetura fascicular, mas também a análise detalhada da relação do nervo com as estruturas adjacentes.

A definição precisa do local e do padrão da lesão é essencial para o planejamento terapêutico individualizado, seja conservador ou cirúrgico, dependendo da gravidade do comprometimento funcional e dos achados complementares, como os obtidos na eletroneuromiografia.

Por fim, é fundamental que o exame seja realizado por um médico com experiência específica na avaliação de nervos periféricos por ultrassonografia, considerando a complexidade anatômica da região e a necessidade de interpretação criteriosa dos achados, visando maior segurança diagnóstica e melhor condução clínica.


Dr. Renan do Vale
Médico Especialista em Diagnóstico por Imagem e Ultrassonografia
CRM-SP 158717